Ética no Trabalho
A aceitação e a convivência pacífica de uma pessoa em qualquer grupo que participe, nos seus diferentes papeis, seja familiar, social, empresarial, político etc., dependem da sua observância às regras definidas, formais ou informais, para o comportamento esperado dos seus membros, as quais são construídas e refinadas ao longo do tempo.
O desrespeito às regras pode ser passível de punição ou exclusão do infrator e, o comportamento daqueles que as infringem é considerado não ético. Conforme Antunes (2012. p. 26), “A palavra ética possui sua origem no grego ethos, que quer dizer costume, maneira habitual de agir ou índole. Seu significado é muito próximo ao de moral, palavra que vem do latim mos e moris, que significa normas que representam o comportamento esperado”.
Segundo Antunes (2012, p. 34), adaptado de Vargas (2005, p. 82), “O desenvolvimento moral é um aprendizado que não se faz de uma hora para outra: em geral é um processo que se desdobra em cinco níveis: ausência de moral própria; oportunismo; conformidade com o grupo; conformidade com as instituições; autonomia e universalidade”. No primeiro nível – ausência de moral própria, situam-se as pessoas que não desenvolveram um pensamento crítico, são seguidoras e obedecem às regras ditadas pelas lideranças. No segundo nível – oportunismo, situam-se as pessoas que colocam os seus interesses individuais acima das regras e as contornam em benefício próprio. No terceiro nível – conformidade com o grupo, situam-se as pessoas que primam em estar em conformidade com o grupo do qual fazem parte e, para tanto, observam as suas normas de conduta e valores. No quarto nível – conformidade com as instituições, situam-se as pessoas que entendem que, o que é correto no contexto atual depende da legislação vigente, da cultura atual e do momento histórico, podendo mudar em outro contexto. No quinto nível – autonomia e universalidade, situam-se as pessoas que entendem que, segundo Antunes (2012, p. 40) “os valores e as crenças são construídos de modo bastante subjetivo, dependendo da história de vida de cada um e, consequentemente, a definição dos valores morais é relativa”. De acordo com Vargas (2005), citado por Antunes (2012, p. 40), “só uma minoria atinge os níveis quatro e cinco de desenvolvimento moral. Boa parte da população discute o termo ‘moral’ sem colocar em prática os preceitos em que diz acreditar”.
Em tempos remotos, o poder era exercido pela força e castigo a quem desobedecesse. Era considerado normal, portanto, não-ético, escravizar pessoas de diferentes etnias. usar a força para prender e torturar pessoas que agiam em desconformidade com a legislação vigente, pais surrarem seus filhos, professores baterem e castigarem os seus alunos, patrões maltratarem seus empregados, trabalhos em condições precárias para os trabalhadores e sem a preocupação com o desenvolvimento humano, entre tantas outras práticas inconcebíveis na nossa cultura atual. O desenvolvimento da sociedade, impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico, elevou o nível de conhecimento e da exigência das pessoas que passaram a estudar mais e buscar maior qualificação. A oferta de produtos e serviços aumentou, assim como a qualidade e a exigência dos consumidores.
Atualmente as empresas que não investem na sua imagem, na atualização tecnológica, no desenvolvimento dos seus colaboradores, fomentando ações voltadas para a criatividade e inovação dos seus processos, produtos e serviços, e que não atendem aos seus compromissos sociais e ambientais, correm o risco de perder a sua competitividade e de se tornarem obsoletas.
Com o poder das redes sociais, os comportamentos não éticos das organizações podem macular e destruir a sua imagem junto aos consumidores dos seus produtos e serviços e, cada vez mais, as empresas que buscam a excelência do seu desempenho incluem a ética com um valor a ser observado e cultivado na organização. Conforme Antunes (2012, p. 50), “a ética nos negócios pode ser entendida como uma disciplina que se dedica a estudar as normas morais envolvidas nos níveis individual, organizacional e sistêmico, que permeiam as atividades nas organizações empresariais”.
As exigências do mercado levam muitas organizações a aderirem as boas práticas de ESG (E – Environmental ou Meio Ambiente, S – Social e G – Governance ou Governança), movimento surgido em 2004 através do pacto global da ONU com o Banco Mundial.
O primeiro pilar, Environmental ou Meio Ambiente, refere-se às políticas e práticas voltadas para a preservação do meio ambiente, visando reduzir os riscos e impactos causados pelas operações da empresa, por exemplo: tratamento de resíduos tóxicos; eliminação ou redução dos desperdícios; descarte correto dos resíduos, entre outros.
O segundo pilar, Social, refere-se às políticas e práticas voltadas para o cumprimento das suas responsabilidades sociais junto aos seus stakeholders, ou seja, públicos interessados, tais como: acionistas, comunidades, clientes, fornecedores, parceiros, funcionários, etc., por exemplo: observância da legislação trabalhista; segurança no trabalho; manter um ambiente propício para o desenvolvimento dos trabalhos; respeito aos direitos humanos; diversidade da equipe; implementação do código de ética da empresa; implementação de políticas de proteção e privacidade de dados; apoio e ações voltadas para a comunidade, investimento social e privado, entre outros.
O terceiro pilar, Governance ou Governança, refere-se às políticas e práticas de governança da empresa, tais como: conduta corporativa; práticas anticorrupção; rentabilidade; auditoria; canal de denúncias, entre outros.
Os três pilares do ESG são importantes e imprescindíveis para a sustentabilidade das organizações. O desequilíbrio de um, pode representar uma série ameaça ou, seja, todos os seus stakeholders, precisam ser bem atendidos. As queixas de uma comunidade insatisfeita com as operações da empresa, arranham a sua imagem; colaboradores insatisfeitos não se engajam para atingir resultados de excelência e são mais propensos a erros, doenças ocupacionais e acidentes de trabalho; fornecedores, parceiros e clientes insatisfeitos não se mantém fieis à organização e miram a concorrência; acionistas insatisfeitos deixam de investir na empresa e, quando esta deixa de ser rentável, não consegue manter as suas operações e obrigações.
A rentabilidade faz parte do compromisso social. Cada empresa que fecha as portas gera desemprego, perda de renda e frustrações, além de afetar a comunidade local, o comércio e os serviços que se estabeleceram no seu entorno. Cada empresa que prospera, gera emprego, renda e cumpre o seu papel social uma vez que beneficia não somente aos seus acionistas, mas sim a todos que dela dependem direta ou indiretamente. Segundo Meneghetti (1997, p. 72), “Sem dinheiro, não há liberdade social e muito menos para aquilo que se ama ou para as próprias ideias. Se a esse símbolo os seres humanos atribuem poder, ele deve ser usado com circunspecção sem jamais depender dele”, ou seja, o dinheiro em si não nos torna melhores nem realizados. Somos livres quando conseguimos ‘ser’ e arcar com os nossos sonhos fazendo algo útil com ele, deixando nosso legado, sem depender da aprovação ou da complacência de outrem.
Não somos seres isolados, fazemos parte de um sistema. O que fazemos ou falamos, afetam outras pessoas e, essas questões nos remetem ao comportamento ético, necessário em todos os aspectos da nossa vida para evoluirmos como seres humanos, independentemente de como os outros agem. Em relação ao trabalho, a responsabilidade amplia, pois envolve maior número de pessoas com quem nos relacionamos no dia a dia e, pouco sabemos das suas vidas. O que é dito, na maioria das vezes, não revela as dores que ocultam, dos seus complexos, ansiedades e necessidades. O respeito aos demais, como cada um é ou escolhe ser ou fazer da sua vida, a observância aos compromissos assumidos, a qualidade das nossos entregas e fazer o nosso melhor nos diferentes papeis que assumimos é muito mais importante para o nosso ‘ser’ do que para o que os outros possam perceber ou valorizar.
Não se deve, jamais, trair ou variar os próprios compromissos com os outros. Aos outros, pode ser normal errar: estão corrompidos, débeis, descontínuos, condicionados por medo, ou variar de eventos. Para si mesmos, deve-se escolher um universo onde não há perdão, onde o ser é e o não-ser não é. É um fato de coerência com a nossa dignidade interior. Não se trata de sermos fiéis aos outros ou estúpida rigidez à palavra dada. Trata-se simplesmente de adquirir aquela grandeza, onde o ser pode fazer tranquila a sua casa e deixar repousar ali o seu coração pleno de perfeição. (Meneghetti, 1997, p. 76).
A ética no trabalho é um requisito essencial para o atingimento da excelência do desempenho organizacional, profissional e pessoal. As organizações e profissionais que adotam comportamentos não éticos podem levar vantagem em algumas situações, mas não conseguem ir muito adiante. A confiança é como um cristal, quando trincado perde o valor.
Referências Bibliográficas
Antunes, M. T. P. (2012). Ética. São Paulo: Pearson Education do Brasil.
Meneghetti, A. (1997). A Arte de Viver dos Sábios. Porto Alegre: Psicologica Editrice do Brasil.
Lúcia Arlete Machado Nunes
Consultora Organizacional e Comportamental, CEO da DRAGON – Consultoria Organizacional Ltda.