Novas Competências frente às Mudanças Exponenciais
O uso da Inteligência Artificial – IA incorre em soluções disruptivas e exponenciais constituindo ameaças ou oportunidades para as empresas e profissionais, conforme a sua agilidade para usufruir dos seus benefícios e implementar novas práticas que, inevitavelmente, envolvem competências técnicas e comportamentais, desenvolvidas ou a desenvolver.
O uso do termo exponencial tornou-se comum quando se trata de negócios, organizações, profissões e até mesmo costumes e estilos de vida. A questão inquietante é: atuando nos diferentes papeis que assumimos, como empresários, gestores, líderes, colaboradores, educadores, políticos, investidores ou consumidores, estamos preparados para enfrentar os desafios das mudanças exponenciais?
Segundo Diamandis et al. (2016, p. 321), “A nossa mente linear não consegue captar a progressão exponencial”, com o que concordo e tenho observado em diversas situações quando surge a notícia de uma inovação e, em geral, algumas pessoas, agarradas às suas convicções e maneiras de fazer, resistem duvidando e procurando argumentos para justificar que não serão atingidas a curto ou médio prazo. Por exemplo: muitos alunos e professores na área da educação resistindo ao ensino à distância, utilizar ebooks, chats, entre outras tecnologias; profissionais da área da saúde resistindo à biologia sintética, atendimentos online, medicina digital, com o uso de requisições e prontuários médicos online, uso da Inteligência Artificial – IA nas cirurgias; profissionais da área jurídica resistindo a digitalização dos processos; profissionais do agronegócio e pecuária resistindo ao uso dos drones e Inteligência Artificial – IA; arquitetos, decoradores e designs que continuam utilizando métodos manuais para os seus projetos; motoristas duvidando da ameaça dos carros autônomos para as suas profissões no curto ou médio prazo; organizações e profissionais resistindo a transição de sistemas ultrapassados para sistemas com linguagens ou recursos atuais, uso da Inteligência Artificial – IA, robótica, sensores, entre tantas outras inovações necessárias, de forma a garantir a sua atualização, competitividade e continuidade.
Atualmente a tecnologia exponencial está expulsando do mercado não apenas as empresas lineares, mas também os setores lineares. Vem mudando toda a paisagem, rompendo processos industriais tradicionais – como o da invenção de bens de consumo e sua colocação no mercado. Para o empreendedor certo, existem muitas oportunidades nessa disrupção (Diamandis et al., 2018, p. 532).
Como em todas as questões, há opções e decisões que precisamos tomar, tanto pessoais, como profissionais. As nossas escolhas definem os resultados que obteremos e influenciam o ambiente onde estamos inseridos. Podemos nos acomodarmos com o desempenho das práticas que dominamos e que garantem o sucesso atual ou mantermos uma mente inquieta na busca de inovações para a nossa atualização, acompanhando as tendências que envolvem a nossa área e, diante das mudanças que nos afetam, podemos resistir, tentar retardar ou buscar o desenvolvimento de novas competências para nos mantermos atuais e agentes da mudança, usufruindo ou sofrendo as consequências das escolhas equivocadas.
É importante salientar que, mesmo que os profissionais e as organizações estejam atualizados e dominando as tecnologias atuais, aplicáveis a sua área de atuação, nada garante que não serão desbancados. Segundo Feigenbaum et al (2003, p.7), “Uma empresa pode manter a sua dominância no mercado até que seja desafiada, não pela economia de escala, mas pode ser desbancada pelo próximo produto – temporariamente dominante”.
Segundo Christensen et al, (2018, p. 1503), “A inovação tem menos a ver com a produção de algo novo e mais a ver com a possibilidade de tornar factível algo novo e importante para os clientes”, ou seja, enquanto o foco de muitos profissionais e organizações está centrado no aperfeiçoamento dos seus produtos e serviços, bilhões ou trilhões de outros neurônios ao redor do mundo estão se conectando e interagindo movidos por um propósito, centrados na solução de um problema com o uso de tecnologias exponenciais, que podem gerar um produto ou serviço disruptivo, desbancando empresas que antes dominavam o mercado. O que aconteceu com a Kodak, que foi uma gigante dominando o mercado com câmeras e filmes fotográficos?
Assim como Davi, um jovem pastor com recursos escassos, mas altamente motivado, venceu Golias, um soldado gigante, temido por todos os soldados do reino que não ousavam enfrenta-lo, e veio a se tornar rei, conforme relato na Bíblia (Samuel 1, 17: 1 a 54), assim são as grandes organizações que se tornam gigantes investindo em recursos e em tecnologias de última geração para a melhoria dos seus processos, produtos e serviços, e podem ser vencidas por uma solução disruptiva, desenvolvida por uma pequena startup que nasceu modesta e passou a reinar, como foi o caso da Google, Amazon, Pay Pal, Space X, Uber, Airbn, Waze.
O aprendizado profundo da máquina foi projetado baseado no cérebro humano, ou seja, estabelecendo conexões e com a capacidade de aprender com os erros cometidos. Todos nós temos essa capacidade e podemos agir da mesma forma, aprendendo com os erros e sobre as tecnologias e ferramentas disruptivas para nos mantermos atualizados e competitivos, deixando de lamentar ou persistir com a aplicação das práticas que se tornaram obsoletas
Nesse ambiente complexo e cenário de mudanças exponenciais, as organizações e profissionais necessitam de informações consistentes e atuais para auxiliar no seu processo de tomada de decisão para a definição de suas estratégias e feedback imediato.
Para o feedback imediato são necessárias informações descritivas obtidas preferencialmente através do processo de Business Intelligence, ou seja, informações dos sistemas integrados de gestão, baseadas nos resultados dos negócios decorrentes dos processos de trabalho e transações do dia a dia.
Para a definição das estratégias, saem em vantagem as organizações que contam com uma robusta base de dados, internos e externos, e um processo de Business Analytics para impulsionar a aprendizagem avançada da máquina e algoritmos que interpretam dados externos e da análise descritiva, em tempo real, para gerar informações preditivas e prescritivas, ou seja, que antecipem tendências, cenários futuros e sugiram prováveis soluções. Segundo Lima et al. (2021, p.14), “Business Analytics pode ser entendido como algoritmos avançados de analytics, incluindo Data Mining e Inteligência Artificial (IA), utilizado para a definição de estratégias de gestão, baseado em análises preditivas e prescritivas para a otimização de negócios”.
As competências técnicas dos profissionais do futuro para o desempenho das novas práticas com o uso da Inteligência Artificial – IA, estão cada vez mais atreladas ao domínio das ferramentas e metodologias necessárias para o desempenho das suas atividades.
O desenvolvimento das competências comportamentais dos profissionais do futuro é tão importante quanto as competências técnicas e são decisivas para a sua integração e permanência numa organização, comunidade ou grupo. Entre elas destacam-se: atuação em equipes, preferencialmente de alta performance; responsabilidade para agir com autonomia; respeito às diferenças; flexibilidade; comprometimento com a excelência dos resultados; apoio aos demais membros da equipe, quando necessário; atuação com foco na solução do problema do cliente; atuação com propósito e objetivos em comum, divididos em metas ou submetas claras a serem atingidas em curto espaço do tempo; saber dar e receber feedback imediato para corrigir o rumo, caso seja necessário, sem críticas, com foco na solução, para que os objetivos propostos sejam atingidos no prazo definido pela equipe; ser capaz de absorver e adaptar-se rapidamente às mudanças; disposição para correr riscos, errar e buscar rapidamente a solução com a experiência adquirida.
Os profissionais do futuro com as competências técnicas e comportamentais desenvolvidas são capazes de contribuir para o alcance de grandes propósitos. O primeiro passo é o desapego às práticas atuais e a abertura para o novo, para o que pode vir a ser e que ainda não imaginamos. Lutar contra essa avalanche de novidades é ficar para trás, mas, querendo ou não, seremos arrastados, ou podemos surfar nessa onda usufruindo o que estar por vir.
Referências Bibliográficas
Bíblia (Samuel 1, 17: 1 a 54).
Christensen C. M. & Hall, T., Dillon, K., Duncan, D. S. (2018) Muito Além da Sorte: Processos inovadores para entender o que os clientes querem. Porto Alegre: Bookmann.
Diamandis, P. H. & Kotler, S. (2016). Abundância: O futuro é melhor do que você imagina: São Paulo: HSM do Brasil.
Diamandis, P. & Kotler, S. (2018). Oportunidades Exponenciais: Um manual prático para transformar os maiores problemas do mundo nas maiores oportunidades de negócios e causar impacto positivo na vida de bilhões. São Paulo: HSM do Brasil.
Feigenbaum A. V. & Feigenbaum D.S. (2003). O Poder do Capital Gerencial: Como utilizar as novas determinantes da inovação, da rentabilidade e do crescimento em uma exigente economia global. Rio de Janeiro: Qualitymark.
Lima, J. J. M.& Redaelli, E. J. (2021). Competição Analítica: Um modelo de gestão de negócios para a inovação e a criação de valor para as empresas. Porto Alegre: Ed. do Autor.
Lúcia Arlete Machado Nunes
Consultora Organizacional e Comportamental, CEO da DRAGON – Consultoria Organizacional Ltda.