O Efeito Sombra
Há duas polaridades em tudo o que existe: positivo e o negativo, esquerda e direita, certo e errado, frio e quente, bom e mau, bonito e feio, prazer e dor, dia e noite. E nós somos seres ambíguos, constituídos de luz e sombra.
É difícil lidar com a sombra porque ela é tudo aquilo que somos e não queremos ser, nem admitir para nós nem para os outros, por vergonha ou medo. E, por mais que tentemos ignorar, faz parte de nós.
A sombra forma-se quando nos identificamos com alguém do nosso sistema familiar ou a partir das primeiras experiências de vida, quando somos ensinados a sermos polidos, a nos comportarmos de determinada maneira, o que é certo ou errado, então aprendemos a reprimir desejos e emoções, por medo do castigo ou de não sermos aceitos, e a usar máscaras para transmitir aos outros a imagem do que gostaríamos de ser: o queridinho, o valente, o corajoso, o bonzinho, o intelectual, o sensual, o sabichão, o moralista, o fortão, o herói ou o coitadinho, a vítima que precisa de proteção. Segundo Ford, D.:
A única maneira de garantir que o nosso eu autêntico e imperfeito não seja descoberto ou exposto é reconhecer o nosso padrão e começar a desenvolver o lado contrário da qualidade que tentamos ocultar. Trata-se de um grande disfarce. Nós fingimos e construímos cuidadosamente uma máscara para que ninguém, nem nós, reconheça (2010, pag. 88).
Essas máscaras nos aprisionam. Se usarmos a máscara do corajoso, não nos permitimos mostrar o nosso medo, por exemplo, se do bonzinho, sufocamos a nossa raiva ou indignação quando alguém tenta abusar; se do moralista, precisamos nos mostrar recatados.
As emoções, sentimentos e pensamentos reprimidos crescem dentro de nós e querem se manifestar. Inicia com pequenos sinais: erros cometidos, pequenos acidentes, insônia e outros. Quanto mais ignorarmos, mais crescem avolumando-se e, como um vulcão, podem irromper a qualquer momento.
Às vezes de forma tão violenta, que pode destruir tudo aquilo que levamos muito tempo para construir ou conquistar: nossa reputação, relacionamentos, saúde, carreira. Não raro, pessoas que destroem a sua vida ou reputação quando aspectos sombrios vem à tona. Algumas que se destacam em suas carreiras e depois se envolvem-se em escândalos, virando assunto de manchetes, noticiários e revistas de fofocas, outros que, por impulsos incontroláveis, como ciúmes ou raiva cometem crimes ou agressões violentas.
A projeção do efeito sombra ocorre quando nos deixamos afetar ou perturbar por outras pessoas, próximas ou distantes, como uma personalidade pública, criticando-as por pensamentos ou palavras. Nesse momento, elas estão sendo o nosso espelho, projetamos nelas a nossa sombra. Essas pessoas contem características que precisamos trabalhar em nós. Quando apontamos um dedo acusador para elas, três estão voltados para nós.
Só seremos completos e pessoas melhores quando conseguirmos atingir a harmonia entre as partes, deixando de negar e aprendendo a lidar com a sombra para integrar a parte que nos falta para que ela não nos domine. Segundo Robertson, R.
Todos sentimos medo de olhar para os monstros que tememos estar dentro de nós. A antiga Caixa de Pandora aconselha-nos a não bulir nas coisas ocultas. Contudo, é precisamente quando não examinamos o nosso lado oculto que ele cria monstros e vem explodindo na direção do mundo exterior. Assim que começarmos a reconhecer que os monstros que enxergamos fora vivem dentro, o perigo diminui”. (1992, pg. 127)
Luz e sombra são elementos essenciais e complementares. Compete-nos aprender a usar o melhor de cada um desses polos, como por exemplo, o medo, para sermos prudentes; a raiva, para nos posicionarmos não deixando os outros abusarem de nós; a inveja, para agirmos buscando também conquistar o que o outro pode; o ciúme para cuidarmos melhor das nossas relações e nos tornarmos mais confiantes. Segundo Chopra, D.:
A sombra não está presente para magoá-lo e sim para mostrar-lhe onde você está incompleto. Quando a sombra é abraçada, ela pode ser curada. Quando ela é curada, ela se transforma em amor. Quando você puder viver com todas as suas qualidades opostas, você estará vivendo o seu eu total como o mago (pg. 81).
O autoconhecimento é essencial para o reconhecimento da sombra, harmonizar-se com a parte que falta, vencer o conflito com a integração e a aprender a viver a própia luz.
Para nos libertarmos, precisamos utilizar o poder do perdão e do amor. Perdão a nós mesmos, às pessoas que magoamos e às que nos magoaram. A culpa, as mágoas e os ressentimentos nos estagnam. A culpa está associada à autossabotagem e a muitas doenças. As mágoas e os ressentimentos que guardamos nos mantém apegados a pessoa que nos magoou ou feriu. Só o perdão nos liberta. Quando perdoamos, não pela pessoa, mas por nós mesmos, conseguimos nos amar mais e ao próximo, e avançar na nossa jornada evolutiva.
"Os nossos ressentimentos nos prendem a outra pessoa com amarras mais forte do que aço". Emmet Fox
Lúcia Arlete Machado Nunes
Consultora Organizacional e Comportamental, CEO da DRAGON Consultoria Organizacional Ltda. Administradora de Empresas, mestre em Psicologia Organizacional, Coach e Consteladora Sistêmica