O Processo de Comunicação
A análise apurada de uma pesquisa de clima e das avaliações de desempenho evidencia que as organizações e as suas unidades onde o clima organizacional, gestores e lideranças são avaliados como bons ou excelentes, funcionam melhor, são mais produtivas e a convivência entre as pessoas é mais harmoniosa e colaborativa, o que interfere, significativamente, nos seus resultados.
A comunicação eficaz é um dos fatores que se destacam nos atributos para uma avaliação positiva das organizações e da sua gestão. Quando ineficaz, há ruídos, boatos, fofocas e a ‘rádio corredor’ ocupa o seu espaço revelando ou distorcendo o que não foi divulgado e, as pessoas, alienadas da realidade organizacional, deixam contribuir para possíveis soluções.
A comunicação eficaz não se resume apenas no que é dito. O olhar, a postura, os gestos, atitudes e comportamentos de uma pessoa, revelam muito mais do que ela carrega no seu âmago do que as palavras ditas. Um olhar atento percebe se há congruência entre o que a pessoa expressa e o que sente. Não somos seres isolados. Há uma energia sutil que permeia o ambiente onde estamos inseridos e afeta a todos, em maior ou menor intensidade. Pessoas positivas, com alto nível de energia e confiança em si, tendem a afetar positivamente o ambiente onde estão inseridas, contagiando e atraindo outras. Ao contrário, pessoas com baixo nível de energia e confiança em si, podem afetar negativamente o ambiente e repelir as pessoas que estão próximas.
Podemos aprender muitas regras e posturas para uma comunicação eficaz, mas, se não buscarmos o nosso autodesenvolvimento, ignorando as nossas sombras, ou seja, o material inconsciente que reprimimos e se reflete nas nossas atitudes, comportamentos e crenças, elas podem emergir em momentos inapropriados prejudicando o nosso desempenho e resultados desejados nas diferentes áreas da nossa vida. Conforme Nietzche, (2006, p.146), “Nossos pensamentos são as sombras de nossos de sentimentos – sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples do que estes”.
As colocações e as atitudes de uma pessoa, mesmo sem intenção de ofender, magoar ou agredir alguém, como: criticar alguém na frente de outras, vangloriar-se, utilizar tom ríspido ou autoritário, utilizar termos pejorativos ou preconceituosos, não cumprimentar ou mostrar-se fria ou apática diante de eventos significativos para o outro, podem servir de gatilho trazendo à tona sentimentos que estes têm, consciente ou inconscientemente, e não conseguem lidar bem, como de inferioridade, inadequação, exclusão, falta de amor, entre tantos, desencadeando atritos, rompimentos, desentendimentos ou dissabores. Conforme Tieppo (2021, p.189), “Quando somos movidos pela emoção, agimos de uma forma subconsciente, automática, sem reflexão, a partir dos estímulos do momento, do agora, sem pensar e seguindo padrões que foram se estabelecendo no nosso cérebro ao longo de nossa vida”.
Às vezes, um sorriso sincero, um olhar atento, pode acolher e mudar a percepção e as crenças de alguém que se sente só, triste ou rejeitado. Conforme Silva, (2022, p. 106), sobre os efeitos do ato da gentileza, “Quando somos gentis, produzimos emoções positivas que funcionam como poderosos nutrientes cerebrais capazes de aumentar nossos níveis de saúde física e mental”. Muitas pessoas em papeis de executivos, lideranças e gestão, ignoram essa simples regra de convivência, cumprimentando ou atendendo outras pessoas, com uma postura apática, sem olhar na sua direção. Esse tipo de postura não desperta o espírito colaborativo dos receptores. Se o emissor for uma autoridade superior ou considerado um expert no assunto, a sua opinião, orientações, instruções ou ordens, só serão consideradas ou atendidas se as pessoas, avaliando as consequências, entenderem que precisam segui-las, não por ficarem satisfeitas ou engajadas.
O ideal é que as pessoas que ocupam ou pretendam ocupar papeis de educadores, gestão e liderança, busquem o seu autodesenvolvimento e a aprendizagem sobre a comunicação eficaz, uma vez que esses papeis exercem influência na vida e no desempenho de muitas pessoas com as quais interagem.
A sustentabilidade e o bom desempenho das organizações, assim como a retenção de talentos, são influenciados pelo nível de motivação e do engajamento dos seus colaboradores e, para isso acontecer, é necessário uma comunicação eficaz que envolve o compartilhamento de informações sobre o seu propósito, missão, valores organizacionais, estratégias, projetos, planos e recursos, bem como os canais de comunicação e as práticas de gestão adotadas para assegurar que os colaboradores, atendam, participem, possam manifestar-se e contribuam com os objetivos e tomadas de decisão que envolvem a sua área de atuação.
Há maior probabilidade de ocorrerem ruídos de comunicação e transtornos, impactando negativamente no clima organizacional, nas organizações que não desenvolvem boas práticas de gestão e canais adequados para a comunicação dos seus colaboradores e, consequentemente, afeta o desempenho e a motivação dos colaboradores para contribuírem com ações visando a melhoria ou a inovação dos processos produtos e serviços da organização. Por outro lado, com base em estudos, pesquisas de clima, levantamentos e diagnósticos organizacionais realizados, atuando como Consultora Organizacional e Comportamental, há várias décadas, em empresas de vários tipos e portes, é possível afirmar que há maior envolvimento e comprometimento dos colaboradores nas organizações que investem em boas práticas de gestão e nos seus sistemas de comunicação, pois estes sentem-se parte da solução e orgulho de pertencer.
Referência Bibliográficas:
Nietzsche, F. (2006). A Gaia Ciência. São Paulo, SP: Editora Escala.
Silva, A.B.B. (2022). Felicidade: ciência e prática para uma vida feliz. Rio de Janeiro, RJ: Editora Principium.
Tieppo, C. (2021). Uma Viagem pelo Cérebro: a via rápida para entender neurociência. São Paulo, SP: Editora Conectomus.
Lúcia Arlete Machado Nunes
Consultora Organizacional e Comportamental, CEO da DRAGON Consultoria Organizacional Ltda. Administradora de Empresas, mestre em Psicologia Organizacional, Coach e Consteladora Sistêmica