O Processo de Tomada de Decisão
O processo de tomada de decisão ocorre diariamente. Algumas decisões são tomadas de forma inconsciente, ou seja, por respostas automáticas que foram incorporadas aos nossos hábitos e costumes; por impulso, guiadas pelas nossas emoções ou por insights ou inspirações, que nos movem para criar ou fazer algo novo, sem referências. Nesses casos, estamos acessando nosso sistema 1 que, segundo Kahneman (2012, p. 30) “opera automática e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma percepção de controle voluntário”. Há decisões que tomamos de forma consciente, deliberada, buscando e identificando alternativas e escolhendo, conforme o nosso nível de conhecimento, com base nas informações disponíveis, a alternativa que nos parece ser a melhor naquele momento. Nesse caso, segundo Kahneman (2012), estamos usando o nosso sistema 2.
Somos movidos por duas formas de pensar e agir. Uma forma é subconsciente, automática, sem reflexão, em que somos movidos principalmente pelas emoções, a partir dos estímulos do momento, do agora, sem pensar e seguindo padrões que foram se estabelecendo no nosso cérebro ao longo da nossa vida e que nos induzem a agir de uma determinada maneira. E a outra forma de pensar, que é responsável pela decisão consciente, envolve reflexão, ponderação, análise das variáveis e esforço mental. Essa segunda maneira depende em grande parte do córtex pré-frontal (Tieppo, 2021, p. 213).
Independente da forma como pensamos ou agimos, as decisões tomadas, individual ou coletivamente, podem impactar, com maior ou menor intensidade, na nossa vida, saúde, na vida de outras pessoas, na sociedade, no meio ambiente, nos resultados das organizações ou até mesmo, no mundo, conforme o poder que a pessoa ou grupos detém.
O processo de tomada de decisão nas organizações, públicas ou privadas, requer muita atenção e responsabilidade à medida que seus efeitos repercutem contingente de pessoas que, direta ou indiretamente, dependem do seu funcionamento, produtos e serviços. Em decorrência, os sistemas 1 e 2 precisam funcionar concomitantemente, considerando que as organizações precisam ser ágeis, criativas, inovadoras, o que requer o sistema 1, mas também racionais para a tomada de decisão assertiva. Nessa complexidade, as decisões tomadas por uma única pessoa ou pessoas com o mesmo perfil, pode ser um risco para o sucesso da organização. A diversidade trás diferentes pontos de vistas e perspectivas, ideias criativas, inovadoras. O pensamento racional, sistematiza, planeja, dá forma ao que, a princípio, poderia ser uma ideia inviável.
As ideias e a criatividade das pessoas são essenciais, mas também são necessárias informações consistentes e o estudo de tendências para embasar as tomadas de decisões no nível estratégico e tático para que, uma aparente boa ideia, não redunde num grande fracasso que pode até mesmo desbancar uma organização. Segundo Magaldi & Salibi Neto (2020, p. 1308), “Não é razoável manter um padrão de tomada de decisão tradicional fortemente baseado no empirismo quando o contexto gera um volume quase infindável de informações e variáveis que contribuem para análises mais assertivas”. Os níveis decisórios das organizações, para decisões mais assertivas, necessitam entender o contexto atual da organização e do mercado a partir da análise prescritiva dos dados históricos dos resultados gerados pela organização em comparação com os resultados de empresas consideradas como referenciais comparativos; a seguir, fazer a análise preditiva para a identificação dos padrões que possibilitem prever o que pode vir a acontecer, para que a organização não seja surpreendida e, por fim, fazer a análise prescritiva para a indicação e adoção das melhores decisões para os negócios da organização. Essa análise requer que as organizações tenham dados históricos robustos e informações externas.
As organizações que criam uma cultura baseada em dados e contam com um Business Analytics (BI) que, segundo Lima & Radaelli (2010, p. 09), “pode ser entendido como algoritmos avançados de analytics, incluindo Data Mining e Inteligência Artificial (IA), utilizado para a definição de estratégias de gestão, baseado em análises preditivas e prescritivas para a otimização de negócios”, saem em vantagem competitiva. Para tanto, é necessário que tenham objetivos bem definidos para a geração de valor, ações assertivas para a obtenção e a coleta dos dados necessários para o seu negócio, investimento em recursos tecnológicos e de infraestrutura, desenvolvimento das competências dos usuários e a governança dos dados, em observância a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
O processo de tomada de decisão no nível operacional funciona de forma assertiva quando os colaboradores integram equipes onde todos participam da definição dos objetivos e do processo de decisão. Nesse processo podem ser usadas técnicas de brainstorm, grupo nominal, Delphi ou nas reuniões de acompanhamento e avaliação dos resultados, com foco no desempenho da equipe e na solução, sem recriminações, incentivando o apoio aos integrantes da equipe que não estiverem atingindo os resultados esperados para que possam se sentir amparados e aprender uns com os outros.
Não há uma fórmula para o sucesso do processo de decisão, apenas recomendações que podem ser implementadas se aplicáveis no contexto em que o processo ocorre para que as decisões sejam assertivas, evitando decisões que possam ocasionar arrependimentos ou efeitos contrários aos desejáveis, decorrentes de estados emocionais ou ações impulsivas que predominaram sem dar espaço à razão.
Referências Bibliográficas:
Kahneman, D. (2012). Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva.
Lima J. & Radaelli, E. (2010). Competição Analítica. Porto Alegre: IBCA.
Magaldi, S. & Salibi Neto, J. (2020). Estratégia Adaptativa: o novo tratado do pensamento estratégico. São Paulo: Gente.
Tieppo, C. (2021). Uma Viagem pelo Cérebro: a via rápida para entender neurociência. São Paulo: Conectomus.
Lúcia Arlete Machado Nunes
Consultora Organizacional e Comportamental, CEO da DRAGON Consultoria Organizacional Ltda. Administradora de Empresas, mestre em Psicologia Organizacional, Coach e Consteladora Sistêmica